quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mariana sem palavras

Mariana era menina muda. Não gostava de falar, pois para ela, era muito complicado falar sem se embaralhar.

Entretanto, menina muda observa sem cessar em contínua observância uma epifania veio a calhar.

E pensando na felicidade começou a imaginar,

Que diferença faria?

Que belo seria se ela se dispôsse a falar.

Então saiu a caminhar entrou num labirinto, labirinto do olhar, lá viu coisas esplêndidas e sua boca impoluta começou a falar.

Falou muitas coisas, seguiu as pegadas das palavras e vejam só onde ela foi parar. No âmago do labirinto eis um belo lugar, onde com suas novas e belas palavras ela pôde devanear.

E aquilo foi um marco, desde então seu melhor habito é falar sem parar, galgando até dez línguas pronunciar e enfim a lenda de Mariana será!


José/Barbosa

domingo, 8 de janeiro de 2012

Despedida

-Você há de convir comigo, penso que é chegada a hora de repousar e creio que o gato, em teu travesseiro, está a ronronar.
-Pois o amanhã já chegou e logo o sol vai raiar e eu, no culto dominical, tenho que tocar.
-E lá devo me assentar pois o alimento dominical eu não posso recusar.
-Pois agora eu não vou mais a igreja faltar!
-E assim sendo terei de optar. Uma noite mal digerida pode me atrapalhar, então devo a ti me reportar uma breve despedida para não me demorar.
-Assim sendo, também vou me despedir. Direi " boa noite" e "bons sonhos" e logo me despeço de ti
-Logo te responderei: "boa noite, durma bem e sonhe também e durma logo porquê o amanhã breve vêm. "

Que feio José!

Que feio José!
A hora passou você não se arrumou
Que feio José!
A noite chegou, o sol a chamou, o dia surgiu e você só fingiu!
Que feio José!

Finjo ser o que provavelmente seria se fosse você
A pressão caiu, a produtividade caiu, tudo é mentira você só dormiu.
Dormi plenamente na certeza de quem vence

Mas "que feio" por quê?
Se o que eu queria era repousar meu corpo e pensar?!
Pensar no amanhã que me deixa ansioso
E desejar que chegue logo dia 4 para saborear meu prêmio gostoso!

E me deleitar em meu prêmio gostoso que é meu e do Pastor Talentoso!

Morri! Se morri, eternamente deixei o que vi

O que vi, que sonhei, que chorei, que sofri, que vivi

Tudo deixei quando morri, de rir

Porquê mesmo você morreu José?

Do que, porquê o que te fez morrer?

Porque no momento que percebi, a vida deixava de residir em mim
Mas agora o novo dia chegou, o sol a noite expulsou.
Pois a nova manhã já me fez esquecer o que vi, que sonhei, que chorei, que sofri, que vivi

Que bonito José!
Que bonito José!

E agora José

-Sabe esse poema? O de Carlos Drummond de Andrade?!
-Pouco e você?
-Não eh legal?! Você tem um poema pra você.
-Pois é, sou especial.

Aos cuidades de mim mesma

Há três anos conheci o amor.
Ele não é alto, moreno ou magro. Tem nome, data de publicação e autor.
Me apaixonei pelo poema "Como conversar com garotas em festas" - Neil Gaiman, e de tanto o querer, considero que tornou-se meu, por isso quero deixá-lo aqui, isso faz com que eu sinta que ele é "mais meu".

— Qual é o seu nome? — perguntei.
— Triolé.
— Nome bonito — eu disse, mesmo duvidando daquilo. Mas ela era bonita.
— É um tipo de poesia — explicou a garota, com orgulho. — Como eu.
— Você é um poema?
— Você é um poema? — repeti. Ela mordeu o lábio inferior:
— Se você quiser. Sou um poema, ou um padrão, ou uma raça cujo mundo foi tragado pelo mar.
— Não é difícil ser três coisas ao mesmo tempo?
— Qual o seu nome? -Enn.
— Então você é Enn — ela disse. — E você é do sexo masculino. E é um bípede. É difícil ser três coisas ao mesmo tempo?
— Mas não são coisas diferentes. Quero dizer, não são contraditórias. — Era uma palavra que eu havia lido muitas vezes, mas nunca dito em voz alta antes daquela noite, e acentuei a sílaba errada. Contradítorias.
— Sabíamos que o fim estava próximo, por isso pusemos tudo num poema, para contar ao universo quem éramos, por que estávamos aqui e o que dizíamos, fazíamos, pensávamos, sonhávamos, desejávamos. Embrulhamos nossos sonhos em palavras e moldamos as palavras para que vivessem para sempre, inesquecíveis. Depois, enviamos o poema como um padrão de fluxo, para aguardar no coração de uma estrela, emitindo sua mensagem em pulsos, erupções e chiados por todo o espectro eletromagnético, até que, em mundos a mil sistemas solares dali, o padrão fosse decodificado e lido, e se tornasse um poema de novo.
— E aí o que aconteceu?
— É impossível ouvir um poema sem que ele mude você — observou ela. — Eles o ouviram, e o poema os colonizou, tomou posse deles, e os habitou.
Os ritmos do poema passaram a fazer parte do modo de pensar deles. Suas imagens transformaram para sempre as metáforas deles. Seus versos, seu modo de ver, suas aspirações se tornaram a vida deles. Depois de uma geração, as crianças já nasciam sabendo o poema, e logo, porque essas coisas são assim, já não nasciam mais crianças. Não havia necessidade delas, não mais. Só havia um poema feito carne que andava e proliferava por toda a vastidão do conhecido.
— Você quer ouvir? — perguntou, e fiz que sim, sem saber direito o que ela estava oferecendo, mas convencido de que precisava de qualquer coisa que ela estivesse disposta a me dar.
Ela começou a sussurrar algo no meu ouvido. Isso é o mais estranho na poesia — dá pra saber que é poesia, mesmo quando é numa língua que a gente não conhece. Você pode ouvir Homero sem entender uma palavra, e mesmo assim sabe que é poesia. Já ouvi poesia polonesa, poesia inuíte, e eu sabia o que era sem saber. Seu sussurro era assim. Eu não entendia a língua, mas suas palavras me atravessavam, perfeitas, e em minha mente eu via torres de vidro e diamante, pessoas com olhos do verde mais pálido, e, por baixo de cada sílaba, sentia o avançar sem trégua do oceano invencível.
Talvez eu a tenha beijado de verdade. Não me lembro. Só sei que eu queria.
E aí Vic me chacoalhou com violência.
— Vamos! — ele gritava. — Depressa. Vamos!
Esqueci muita coisa, e vou esquecer mais, e no fim vou esquecer tudo. No entanto, se eu tenho alguma certeza de vida após a morte, ela está envolta não em salmos ou cantos religiosos, mas apenas nisto: sei que jamais vou esquecer aquele momento, ou a expressão no rosto de Stella quando ela viu Vic se afastando às pressas. Até depois de morto vou me lembrar.
Suas roupas estavam amarrotadas, sua maquiagem estava borrada, e seus olhos…
Nunca deixe um universo furioso. Aposto que um universo furioso olharia pra você com aqueles olhos.
Enquanto eu o seguia pela rua, no crepúsculo, marcando com os passos a métrica de um poema que, por mais que tentasse, não conseguia lembrar e jamais seria capaz de repetir.

- Neil Gaiman in “Coisas Frágeis”

sábado, 2 de julho de 2011

Lista de compras

Para um blog nomeado "colher de açúcar"
Está a faltar, por demasiado, o tal doce

A/C da editora do blog.

Trash the 'person'

Na falta de alguém para me jogar fora
Acabei me jogando no lixo.

Não faz sentido?
E porquê deveria?!
Nessa história de vida, me calhou um papel muito chato

Hoje não há nada que faça sentido
Nem a rotina, a felicidade, a infelicidade, o post,
A vida.